Muito mais alimentos, sem reduzir a pobreza

Por Washington Novaes

, por IHU

Na reunião em que foi eleito diretor-geral da Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO), da ONU, há poucos dias, o ex-ministro brasileiro José Graziano da Silva assegurou - com sua experiência de gestor do programa de combate à fome entre nós - que esta será a sua prioridade: enfrentar esse problema no mundo, para que até 2015 o número de carentes de alimentos no planeta, hoje em torno de 1 bilhão, se reduza à metade. "É o desafio do nosso tempo", disse na ocasião o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, lembrando que um dos complicadores dessa questão, "o protecionismo dos ricos" à sua produção de alimentos, só tem aumentado. E isso quando a própria FAO alerta que os preços desses produtos continuarão a subir nos próximos dez anos. E que a produção precisará crescer 70% até 2050, para alimentar os 9,2 bilhões de pessoas que estarão no mundo nessa época.

Não é a única preocupação de Annan. Ele alertou também para os crescentes compra e arrendamento de terras em outros países por especuladores e fundos de alto risco de países industrializados. Só em 2009 foi comprada na África uma área equivalente ao território da França (FAO, 27/6). São movimentos decorrentes das incertezas econômicas do mundo, com investidores buscando garantias reais, no momento em que os papéis financeiros chegam perto de US$ 600 trilhões, para um produto bruto mundial na casa dos US$ 60 trilhões anuais. E no momento em que Nouriel Roubini, um dos pouquíssimos economistas a prever a crise de 2008-2009, alerta (Estado, 23/6) para o forte aumento do "risco de uma parada e um duplo mergulho em economias avançadas", em seguida a altas pronunciadas nos preços de alimentos, petróleo e commodities, que fazem "ressurgir o espectro da inflação".

Em reunião do G-20, nos mesmos dias, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, afirmou que os mercados agrícolas, "os menos transparentes", vão se transformando, "sem regras, em loteria, na qual a sorte sorri para os mais cínicos". Por isso mesmo, o Brasil declarou seu apoio a um Sistema de Informações dos Mercados Agrícolas, administrado pela FAO, que possa coibir movimentos indesejáveis nessa área. Mas não aceita um mecanismo de estabilização de preços agrícolas. Para o ministro da Agricultura brasileiro, o único caminho para isso é "aumentar a produção".

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