Formation des instituteurs pour une autre éducation infantile

Temas, estratégias, materiais e sabores - relatos de uma oficina de dança

, por OLSSON FORSBERG Marito , RIBEIRO DA SILVA TAVARES Joana

A disciplina “As diferentes linguagens na Educação: Dança” teve como objetivo trabalhar alguns princípios da dança, voltados para profissionais que atuam nas creches e pré-escolas das redes públicas do Estado do Rio de Janeiro.

O que ficou claro, desde o primeiro encontro, foi a necessidade de oferecermos ferramentas para os profissionais cuidarem de si, descobrindo sua própria dança, antes de abordarmos atividades direcionadas para as crianças.

Acreditamos que, para se aproximar da dança, é preciso tratar da relação com o nosso corpo no cotidiano. Por isso, desde o primeiro dia de oficina nós buscamos conduzir uma prática sobre a consciência corporal para, em seguida, nos perguntarmos sobre sua importância quando dançamos. Nesse sentido, a oficina abordou exercícios fundamentais sobre a sensorialidade, propondo uma (re-)descoberta proprioceptiva do corpo, com o objetivo de investigar “por onde começamos a dançar?”.

1ª Oficina: “A dança de cada um”

A primeira aula teve início com todos sentados em roda, sobre tapetes, com a solicitação para que os participantes sentissem os apoios sobre os ísquios. Onde nos sentamos? – seria a pergunta inicial.

Tocar os próprios pés foi a segunda etapa. Nessa aula levamos um modelo do pé humano, para que os alunos pudessem conhecer as partes ósseas que compõem um pé. Mais do que saber nomes, o que importa nessa etapa é o reconhecimento das partes do corpo.

Em seguida exploramos o corpo deitado de costas sobre os tapetes, com as pernas flexionadas e os pés apoiados no chão, ativando o “triângulo do pé” (MILLER, 2007, p. 77) formado por três apoios ósseos. O foco da percepção foi direcionada para o reconhecimento dos apoios moles e duros do corpo, que encostavam ou não no chão, em prol de um estado de relaxamento consciente e alerta.

Esse primeiro momento de chegada, em que foi trabalhado o relaxamento, funcionou de modo eficaz com o grupo, pois “um novo cuidado de si implica uma nova experiência de si” (FOUCAULT, 1994, p. 8). O que se pôde verificar foi uma mudança de tônus e a instauração de um “cuidado de si”, tão fundamental para aqueles que cuidam dos outros.

Assim fizemos a descoberta sucessiva da respiração, do contato com o chão e os movimentos “automáticos” que o corpo produz para ficarmos em pé – a “pequena dança”. A tomada de consciência destes movimentos involuntários nos possibilitou vivenciar que a imobilidade já é uma dança. Por outro lado, o simples fato de ficarmos de pé, parados, com os olhos fechados, ativou a percepção do sistema de “equilíbrio reflexivo” (FRANKLIN, 2012. P. 29 e 49), seja pisando sobre bolinhas (ver figura 1) ou bastões de espuma, seja diretamente sobre o chão.

Retomando o trabalho...

Em pé, realizamos jogos de improvisação: convidamos os participantes a iniciar movimentos pelas cinturas escapular e pélvica. Propusemos estratégias de movimento iniciado pelo corpo central para ajudar as pessoas a escapar à tendência, em situações nas quais nós nos sentimos expostos ou inseguros, de fazer movimentos periféricos. Um movimento que engaja as cinturas e todo o tronco também ajuda a desfazer os movimentos estereotipados e a modificar as atitudes posturais. A fim de introduzir o elemento espaço inerente à dança, propusemos em seguida a experimentação de caminhadas com diferentes consignas. A figura do caminhar nos permitiu abordar a noção de “pré-movimento” (GODARD, 1999) e percebê-lo ao vivo, experimentando os ajustes automáticos feitos pelo sistema de equilibração antes de realizarmos qualquer deslocamento ou gesto, tal qual uma pequena dança que precede à própria dança.

O fim desta primeira oficina foi de improvisação, em que foi proposta novamente a formação de uma roda na qual cada participante se deslocou dançando até o centro, sendo observado pelo grupo. Num segundo momento, compartilhamos verbalmente as danças individuais. O comentário geral foi de como a dança trazia afetos, hábitos, atitudes e padrões de coordenação de cada indivíduo – e é justamente com essa complexidade que nós nos expressamos e dançamos.

2ª Oficina – Dançar a dois

No segundo encontro, enfocamos a questão do “outro” na dança, relembrando que a dança é uma atividade humana social por excelência: dançamos sempre com alguém – com um observador, com um músico que nos acompanha ou com um parceiro na dança ou em grupo. Para tanto, centramos o aquecimento e os exercícios preparatórios no tato e no contato.

Iniciamos com um aquecimento usando colheres de pau para estimular os ossos de nosso próprio corpo, identificando o sistema esquelético, e depois tocamos o corpo do outro. Como apoio visual, tínhamos um modelo de esqueleto, assim como dois mapas do corpo humano. A sensação proprioceptiva produzida pelo batuque com as colheres no corpo, cujas ondas sonoras estimulam os terminais nervosos do periósteo (ALMEIDA, 2004, p.25), produzia um estado de escuta de si e do outro, propício para abordar o tópico do dia – a dança a dois. Por outro lado, o fato de levarmos objetos do cotidiano, como uma colher de pau, habitualmente um objeto usado para comer, despertou a criatividade na maneira de lidar com materiais e objetos.

Outro elemento significativo desenvolvido nesse trabalho foi o sentido háptico (do grego haptein – tocar), relativo ao sentido do tato. Este sentido diz respeito à capacidade do corpo de transferir sua experiência perceptiva até a extremidade de uma ferramenta, neste caso, a colher de pau. Godard (2010) observa como o sentido háptico é uma das chaves de entrada para a renovação de nossos movimentos.
Ministramos em seguida um exercício em duplas, em que uma pessoa exercia uma estimulação na base do crânio e no osso do sacro do parceiro, simultaneamente, através do toque. Após uma fase de experimentação sensorial, a pessoa que recebia o toque passava a ser ativa: a se movimentar vagarosamente, sempre com o outro, tocando-o no crânio e no sacro. Assim, este aquecimento a dois possibilitou uma abertura para o contato com o outro, deixando uma marca em nossa propriocepção e em nosso corpo.

A sensação provocada pelo toque contribuiu para dinamizar a musculatura profunda da coluna vertebral, o que intensificava a mobilidade da mesma. A pessoa que tocava, com uma mão na altura do crânio e a outra na região do osso do sacro, seguia a movimentação do parceiro, como se fosse conduzida por ele – e precisava constantemente adaptar sua postura, seus apoios no chão e seus gestos a fim de manter um contato seguro com os dois pontos tocados. Além disso, esta pessoa dirigia sua atenção para o outro, antecipando seus movimento, lendo seu percurso e participando nos seus gestos. E assim, aquecendo-nos, já dançávamos juntos, numa pequena dança a dois, de coluna a coluna, que aos poucos nos agrupou em formação circular, religando os corpos centrais de cada um em um grande corpus, o grupo.

3ª Oficina – A dança do grupo

No terceiro encontro nossa intenção foi a de afinar e aprofundar esta escuta mútua que pode acontecer na dança. O aquecimento foi direcionado para a sensibilização do órgão da pele, através de um trabalho de escovação (com escovas de engraxar sapato), inicialmente em si próprio, e em seguida, no colega: com uma pessoa deitada e a outra escovando cuidadosamente seu corpo. Para finalizar o aquecimento, cobrimos todos os corpos com cangas de praia, tal qual uma segunda pele, dimensionando o limite da interface do corpo com o mundo ao redor.

Nesse terceiro momento, que encerrou a disciplina, buscamos abrir a prática da dança para o espaço geral, uma vez que até então a dança acontecia em duos, no espaço intercorporal – entre as “cinesferas” (LABAN, 1999, p. 85) de duas pessoas, ocupando um espaço menor, sem grandes deslocamentos pela ampla sala.

Para reorganizar esse espaço da sala e conectar o grupo, introduzimos diversos jogos de confiança, com enfoque no conduzir e seguir indo gradualmente do contato com o outro para o contato com o grupo. Foram trabalhadas diferentes qualidades de toque, através da variação dos fatores do movimento: espaço, fluxo, peso e tempo (LABAN, 1999, p. 112) usando, basicamente, os bastões de espuma. Dois a dois, posicionados um em frente do outro, cada dupla segurava entre si um macarrão na palma da mão. A simples pressão no objeto, e suas inúmeras variações, constituía a chave mestra para a dança de cada dupla, que foi afinando sua percepção para este diálogo tônico. Da relação frontal inicial, que privilegiava as dimensões da profundidade e altura, o grupo passou a explorar a direção lateral, a contralateralidade e as rotações, quando as duplas foram transformadas em quartetos. Dos quartetos para um único grupo, houve extensão da percepção e abertura para o espaço ao redor.

Ao final, todos fecharam os olhos e fizeram uma grande espiral conectados através dos macarrões de espuma, incorporando as estratégias utilizadas até então. Os alunos formaram um todo, cujas partes se interconectavam, instalando a dança de um corpo único e integrado – o próprio grupo.

A partir dessa experiência podemos concluir que os participantes gostaram muito das oficinas. Alguns nos relataram as dificuldades encontradas diariamente no ambiente do trabalho, repleto de estresse, tensões e dores. Muitos relataram que se sentiram descansados e dinamizados pelas oficinas de dança. Discutimos a respeito do lugar que esse tipo de oficina poderia ocupar e das transformações que poderia promover no local de trabalho. Outra revelação foi a ressignificação de objetos como estímulo para a criação em dança, despertada pela experiência com as colheres de pau, escovas e cangas.

Foi possível, assim, perceber como a dança sensibilizou o grupo para a necessidade do cuidado de si, o que se afigurou como elemento primordial no cuidado do outro.

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Referências:

  • ALMEIDA, Marcus Vinicius Machado de. Corpo e Arte em Terapia Ocupacional. Rio de Janeiro: Enelivros, 2004.
  • CALAIS-GERMAIN, Blandine. Anatomia para o movimento. São Paulo: Manole, 1991, vol. 1.
  • FRANKLIN, Eric. Condicionamento físico para a dança. São Paulo: Manole, 2012.
  • GODARD, Hubert. Buracos negros. Revista O Percevejo online, v.2, n. 2. Rio de Janeiro: UNIRIO/PPGAC, 2010 [2006], pp.1-21.
  • Gesto e percepção. SOTER, Silvia; PEREIRA, Roberto. Lições de Dança 3. Rio de Janeiro: UniverCidade, 1999, pp. 11-35.
  • LABAN, Rudolf. Dança Educativa Moderna. São Paulo: Ícone, 1999.
  • MILLER, Jussara. A Escuta do Corpo. Sistematização da Técnica Klauss Vianna. São Paulo: Summus, 2007.

Contexto de Produção: Texto produzido como registro da disciplina ministrada no Curso de Extensão em Educação Infantil da UNIRIO.

Produtor - contato: cei.unirio@gmail.com