Saara Ocidental, ano 40 : História, estratégias e desafios para o futuro

Canções do Exílio

, por LAKHAL Hamza

A bandeira da RASD marca o muro do bairro de Matalla, no centro da capital ocupada de El Aaiun. É possível perceber as tentativas da administração marroquina de apagar os vestígios deixados pelos saarauis. Crédito : Laura Daudén
El Aaiun, Saara Ocidental, 2009.

Permanecerás solitário
Como estás... sozinho!
A dor das noites longas
Os olhos que não dormem
E o vinho que permanece
O único amigo dos bêbados
E tu... Solitário como estás...
Navegando mares...
Cruzando cidades...
E tu vens e vais
Como sempre... desacompanhado!

Talvez lá no interior
Cantem como cantam
Os rouxinóis
E tu, tão louco
De amor pela pátria,
Tu que amas a areia...
Amas os pomares!
É por isso que estas atônito...
E proteges tuas mãos
Quando o ranger das correntes
Era demasiado para aguentar
E tornas-te solitário
Quando « Fairuz » canta a ti
“O vizinho do vale”
Cantando como uma memória em luta

Ainda demandas
O fim da escuridão?!
Enquanto tua sombra ainda corre
Atrás das tendas?!
Como conseguirias cantar
Canções matinais
Enquanto teu coração grita:
"Ei! Tu que dormes!?"

Eres prisioneiro do desejo das viagens...
E das melodias da poesia
Uma cobertura ou palmeiras!
Mulheres ou deserto!
E aquela bela voz
Um som triste e vazio
É para ti um tendão de Aquiles
A ti lançado pelo exílio!
E permaneces solitário
Como já estás, sozinho!
Do vento vens
Ao vento vais
Estrangeiro como um grão de areia errante
No vento cresces
E no vento sofres
Fugitivo como a rima em um poema
E perguntas pela terra de « Saguia »
Demandando às nuvens por tua terra querida
« - Aquela lá em frente é minha pátria?
Responda-me para que sobreviva
Responda-me para que me cure
Meu país são minhas feridas...
Minhas feridas são meu país... »
Mas ninguém te responde.
As nuvens não confessaram.
A manhã tampouco chegou.
As questões não curaram tuas feridas
E não há terra que seja tua
Tua casa é o vento
É teu exílio... /
Teu abrigo... /
Tua vida... /
Tua viagem... /
Tua volta... /
Não há terra que seja tua...
Exceto esta miragem
Para ti não há abraços...
Exceto os de ausência
Está sozinho como Ulisses
Lutando contra a saudades da pátria
Lutando contra as ondas
Lutando contra estar separado de teu próprio povo
E a decepção dos companheiros
E a praga do Conselho de Segurança, da hipocrisia
Sozinho....
Estranho...
Deslocado...
Um fugitivo...
Não há terra que seja tua
Não... E não tens direitos
De viver sem tormentos
E sem destruição
Ainda sim, um dia lês o jornal
E vê que há outra resolução
Mas o que ocorreu?!
Do vento vens
Ao vento vais
Estranho como um grão de areia em fuga
E permaneces sozinho
No vento cresces
E no vento sofres
Fugitivo como a rima em um poema
E o que ocorreu?!
Do vento vens
Ao vento vais
É verdade que permaneces sozinho?!
No vento cresces
Com o vento sofres?!
E permaneces sozinho?!
E sofres sozinho?!
E sofres...
E permaneces...
Solitário...
E sofres
E permaneces
sozinho como eres?!